Um pouco mais de história

Atualmente se fala muito em drogas, como se esse fosse um problema social recente. Entretanto, o uso de drogas não é uma prática nova e data de períodos bem antigos. A existência de substâncias que promovem alterações na percepção, no humor e no sentimento são uma constante na humanidade, o que remonta a diferentes lugares, civilizações e suas culturas. E francamente, não existem evidências de que as drogas sumirão do planeta. Por isso é tão importante nos preocuparmos com as medidas preventivas, em especial entre os adolescentes. Esclarecê-los de forma aberta, sem prejulgar, abrindo-se ao que eles têm a dizer, pode tornar a discussão mais acolhedora e desmistificar uma série de equívocos.

Vamos começar pela história do consumo de drogas. O vídeo a seguir, produzido pela equipe do curso Educação, Drogas e Saúde nas Escolas pode lhe oferecer um outro olhar sobre os entorpecentes. Dê uma olhadinha! No item Pesquisas e publicações você encontra um texto na integra que deu origem ao vídeo a seguir.

O que são drogas afinal?

Atualmente, muito tem se discutido em relação ao fracasso das políticas e ações contra as drogas, visando, sobretudo, a repressão à comercialização e ao seu consumo. Mas, essa preocupação não é recente e já foi sinalizada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) sobre saúde em 1998, ao destacarem que embora houvesse gastos vultosos nessa verdadeira “guerra às drogas”, não se notavam impactos sensíveis, a não ser o de situar a questão como caso de polícia.

Você já parou para pensar no que significa a palavra droga? Já atentou para a semelhança entre ela e a palavra drogaria? Muitos produtos que consumimos diariamente apresentam drogas em sua composição. Por exemplo, no café, no chocolate e em alguns refrigerantes à base de cola temos a cafeína. Os medicamentos, as bebidas alcoólicas. Todos esses são produtos que apresentam drogas em sua composição. Não devemos pensar que “drogas” são apenas produtos permitidos pela Lei. Entre produtos legais e ilegais, o universo das drogas é imenso.

O termo droga possui várias acepções. Existem muitas drogas, mas nem todas elas são psicoativas, ou seja, atuam no sistema nervoso. No Brasil, a Lei 11.343 define como droga “toda substância ou produto capaz de causar dependência” . Atualmente a definição mais corrente no meio científico é aquela proposta pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 1993), qual seja: “toda substância natural ou sintética que, introduzida no organismo vivo, pode modificar uma ou mais de suas funções”.

Abarcando os dois conceitos, podemos dizer que droga é “qualquer substância química, natural ou sintética, capaz de causar alterações no comportamento ou na percepção da realidade e com potencial para gerar dependência.”

Só cuidado com os mitos veiculados ao termo drogas. Apresentar potencial para gerar dependência não significa que toda pessoa que fizer uso de alguma substância necessariamente se tornará uma dependente química. Obviamente, o abuso de nenhuma substância é uma prática indicada para manter a qualidade da saúde. Mas, nem todas as pessoas que fazem uso de produtos químicos são viciadas ou dependentes. Vamos pensar antes de propagar mitos e aumentar o preconceito e os estigmas em torno do tema. Mensagens de Facebook, Whatsapp e afins nem sempre são verdadeiras.

A seguir você encontrará informações acerca de algumas substâncias, sua história, como agem no organismo, sua legalidade e suas formas de consumo.

A Redução de Danos na Educação sobre Drogas

Ao longo dessas últimas décadas, as perspectivas proibicionistas e amedrontadoras para se conversar sobre drogas nas escolas e nos demais espaços educativos têm sido colocadas em xeque. Nesse caminho, pautada no diálogo aberto, participativo e na Educação crítica e autônoma, surge a Redução de Danos (também chamada de RD) como uma alternativa ao lastro proibicionista secular. Ouvir nossos jovens, confrontar suas ideiais, entender seus anseios e desconstruir falácias e equívocos sobre o assunto é um papel importante nos dias atuais. E nossos professores são agentes fundamentais nesse processo pedagógico mais democrático e sensibilizador. Não basta pensar nas drogas em si, mas em diferentes questões com elas relacionadas. Por vezes, nos entregamos ao conceito de “droga boa” e “droga má”, “droga leve” e “droga pesada” e esquecemos que não é a droga em si o problema, mas o abuso que fazemos dela. O excesso! Nessa condição, cabe lembrar que diferentes psicoativos fazem parte não apenas de situações de lazer juvenis, como da própria alimentação da sociedade moderna. Isso, sem falar do uso excessivo das midias digitais e sobre como esses impactos podem ser tão deletérios quanto aos das drogas químicas. E será fica o ser humano, a cultura e a qualidade de vida nesse processo? Repensar e desconstruir estigmas e prejulgamentos é essencial. A Educação sobre Drogas é um processo mais delicado do que se pensa. Não pode ser meramente rotulado, classificado e se tornar uma receita de bolo. Por isso centralizamos nossos esforços para pensar na Redução de Danos (RD). Acompanhe o vídeo abaixo e conheça um pouco mais esse referencial pedagógico e como isso ultrapassa os debates drogacêntricos (que culpabilizam a droga) e se articula com outras dimensões sociais.

Drogas Lícitas

O termo lícito significa legal, que é amparado pela Legislação brasileira. Dito em outras palavras, não há proibição para o uso, compra e venda desse produto para os “maiores de idade”. Contudo, algumas dessas substâncias, como o álcool e os cigarros, só devem ser vendidas para os maiores de 18 anos. Não se esqueça que comerciantes que vendem esses produtos para crianças e adolescentes (mesmo que saibam que quem fará uso serão os pais) podem ser punidos. Lembrem sempre aos comerciantes da importância desse cuidado.

Bebidas Alcoólicas (Álcool)

 

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As bebidas alcoólicas estão tão inseridas em nossas vidas, que dificilmente vemos um aspecto nocivo, principalmente por terem sua venda e uso permitidos no Brasil. É a ice que bebemos numa festinha. É a cervejinha na balada ou no churrasco na casa de um parente, no domingo. E, numa versão mais enganosamente natureba, as caipi frutas da vida, onde a vodka assume papel principal para deixar a pessoa levemente relaxada e confortável para conversar, rir e se sentir mais a vontade entre os demais. Mas, qual será o grande problema da bebida alcoólica afinal? Será que há? Já parou para pensar sobre isso? Como é a sua relação com a bebida? Será que existe alguma forma das pessoas apreciarem o álcool com moderação, de fato?

As bebidas alcoólicas recebem esse nome por apresentarem álcool etílico, ou etanol, em sua composição. Ele é a substância entorpecente (droga) propriamente dita desses produtos alcoólicos. Se comparada com outras substâncias, o álcool costuma agir com função depressora sobre o sistema nervoso. Por isso o corpo fica mais lento, mais relaxado e a pessoa tende a se tornar mais desinibida, atingindo muitas vezes um estado de embriaguez. Mas a intensidade dos efeitos variam de acordo com a quantidade de álcool que a pessoa ingere, obviamente.

A partir de uma concentração de 0,5 g de etanol por litro de sangue, o indivíduo já começa a ficar relaxado. Com concentrações entre 0,5 e 1,5 g por litro de sangue, o indivíduo que bebe já começa a ter seus reflexos e sua coordenação motora diminuídos. E é exatamente nessa fase que surgem os primeiros sintomas da embriaguez, onde não há firmeza no passo e a dificuldade para falar e avaliar distâncias diminui drasticamente, bem como a menor capacidade de raciocínio. Alguns demoram mais a atingir esse estado, tolerando mais álcool em sua corrente sanguínea sem manifestar os sintomas clássicos de embriaguez. Outras, com poucas doses já não conseguem levantar sozinhas. Mas, independente das mais resistentes ou não à bebida alcoólica, todas reduzem seus reflexos e por isso atividades como conduzir um veículo ou descer uma escada podem se tornar mais perigosas do que parecem. E, pensando bem, você pode chegar à conclusão de que a Lei Seca no trânsito não é tão ruim quanto muitos pensam e pode evitar uma série de acidentes. Em alguma ocasião, já refletiu sobre isso?

Quando uma pessoa ingere quantidades de etanol entre 1,5 e 2 g o organismo começa a passar pelo que os médicos chamam de intoxicação alcoólica, notando claramente que o indivíduo está embriagado. Certamente, você já deve ter visto alguém nessa fase, com dificuldades até de permanecer de pé, apresentando um certo descontrole de suas emoções e pensamentos confusos e incoerentes com a personalidade da pessoa. E isso pode ser preocupante, pois com cerca de 3 g de álcool por litro de sangue uma pessoa pode ficar inconsciente, antecedendo um estado de coma causado pelo abuso da bebida.

O problema do álcool nunca esteve em seu uso controlado, mas sim em seu uso excessivo que, pode resultar no surgimento de lesões nos nervos e no cérebro. Dessa forma, a pessoa fica mais facilmente irritada, tem dificuldades para realizar tarefas de precisão pelos tremores manuais, diminuição da vontade e capacidade de aprender, além da perda de memória. Em algumas ocasiões, o uso abusivo do etanol pode progredir e gerar psicoses, muitas delas marcadas por alucinações. Nos casos mais graves, onde a pessoa é nitidamente um alcoólico, a sobrecarga do fígado é inevitável, o que pode gerar gradativamente a morte das células desse órgão e um quadro conhecimento como cirrose hepática. Essa doença já esteve relacionada a morte de muitos alcoólicos.

Cada bebida alcoólica tem um cheiro particular, visto que são produzidas a partir de produtos diferentes. Se pensarmos no vinho, por exemplo, o suco de uva sofre fermentação com a ajuda de micro-organismos. Depois, o líquido é filtrado e colocado em barris e garrafas. Pelo fato de não sofrer destilação, o sabor e o aroma de um vinho dependem muito do tipo de uva utilizada (Cabernet Sauvignon, Merlot, Malbec, Pinot Noir etc.), uma vez que as substâncias responsáveis pelo aroma e sabor da uva estarão presentes também no produto. Algumas uvas como a Cabernet produzem vinhos encorpados, que envelhecem muito bem em garrafas. Já a uva Merlot, produz bebidas macias, porém encorpadas, com aroma e sabores frutados, ideais para se consumir ainda jovem.

As modinhas com uso de bebidas alcoólicas, como ices e outros drinks não coisas da geração atual apenas. Em períodos antigos, era muito comum também misturar produtos inusitados às bebidas, como foi o caso do absinto. O absinto é uma bebida destilada feita de uma planta chamada losna ou sintro. Inicialmente surge no final do século XVIII na França, sendo usado como remédio pelo Dr. Pierre Ordinaire (médico francês que morava na Suíça, por volta de 1792). Foi considerado como um verdadeiro elixir terapêutico para doenças graves. Inclusive, durante guerras coloniais europeias, chegava a ser usado na água para garantir sua pureza, prevenindo diferentes doenças intestinais. Embora o absinto fosse considerado uma espécie de licor para muitos, era um tipo de bebida destilada, refrescante com gosto de anis, apresentando alto teor de álcool (entre 40% e 90%). Se tornou tão conhecido que até as classes mais pobres faziam uso da bebida alcoólica. E isso começou a incomodar os produtores de vinho da França que começaram a atribuir ao absinto todos os males possíveis. Como sabemos, pela lei do mais forte, prevaleceram os interesses dos produtores de vinho e o absinto foi proibido. O tempo passou e os efeitos negativos da bebida nunca foi comprovada (embora tenha sido atribuído a ele efeitos alucinógenos) e sua produção e venda são liberadas em muitos países, inclusive no Brasil. Obviamente com o teor de álcool controlado, como toda bebida alcoólica.

Como falado, o uso do álcool tem um forte componente cultural, tendendo a ser a primeira droga de consumo entre os adolescentes. O grande problema está centrado na falta de controle de quem bebe e em se permitir tornar-se dependente quimicamente do etanol. Mas a dependência do álcool não é apenas química. A memória do prazer sentido pela primeira vez pode contribuir para o novo uso. E o lado ruim, que muitas vezes os usuários de álcool não pensam, é no risco disso se tornar uma dependência química e psicológica, trazendo problemas para a família, para o trabalho e até mesmo se afastando dos mais próximos. Isso, no entanto, não significa dizer que toda pessoa que bebe álcool se tornará dependente. Em média, nos adultos, há um tempo médio de cerca de 10 – 15 anos para que se configure a dependência nos adultos. O tempo que uma pessoa leva para se tornar alcoólico (dependente do álcool) varia de pessoa para pessoa. As características biológicas, psicológicas e socioculturais dos seres humanos são diferentes.

Biólogo Francisco Coelho

Tabaco – Cigarros, Rapé e Afins

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Para início de conversa, é importante esclarecer: tabaco é um produto agrícola e não uma droga. É processado a partir das folhas da planta Nicotiana tabacum, em homenagem ao embaixador francês em Portugal, Jean Nicot. Ele foi praticamente um dos introdutores da planta na França, no século XVI, ao perceber que ao aspirar o pó do tabaco moído (chamado de rapé), ele reduzia bastante suas fortes dores de cabeça. Assim, Nicot enviou sementes e pó de tabaco para França para que Catarina de Médicis (na época rainha francesa) o experimentasse. A monarca então aceitou sua sugestão e ficou encantada de como a planta também aliviava suas enxaquecas. A aprovação da rainha fez toda a diferença e o uso do rapé começou a se popularizar no país, ficando conhecida como erva da rainha. Anos depois, resultado de anos de popularização do produto na França, o famoso comandante inglês Sir Francis Drake foi o responsável pela introdução do tabaco na Inglaterra, abrindo caminho para a divulgação do produto.

Curiosamente, no entanto, os primeiros usos do tabaco não foram na forma raspada. Tampouco usada nos cachimbos das cortes, como alguns pensam. Planta originária dos Andes, o tabaco acompanhou as migrações dos índios por toda a América Central, até chegar ao sul do continente. Quando os primeiros portugueses chegaram aqui, as tribos indígenas já cultivavam o tabaco. Elas consideravam a planta como algo sagrado, quase sempre usada para evocar deuses e fazer adivinhações. Também era largamente utilizada para cura de ferimentos, enxaquecas e dores de estômago, sendo seu uso reservado exclusivamente aos feiticeiros (pagés).

Embora se fale tanto mal do cigarro atualmente, sobretudo devido às pesquisas em relação ao riscos do cigarro e ao crescimento das campanhas antitabagistas, não podemos esquecer que o Tabaco já foi uma fonte rentável para o país. As primeiras lavouras de tabaco no Brasil partiram de produções coloniais, inicialmente para consumo próprio e não para venda. Logo, porém, muita gente apareceu disposta a comprar o excedente, afinal, na Europa a procura crescia, e vários negociantes começavam a vislumbrar as grandes possibilidades de lucros que surgiriam a partir da criação de uma via regular de abastecimento. E quando a coisa começa a dar dinheiro, logo surge uma lei para tentar se aproveitar da situação. Não é mesmo? Foi quando, pelo final do século XVII, Portugal aproveitou a boa nova para regular o comércio a partir do controle das cargas transportadas com as grandes plantações brasileiras de tabaco. Surgiu então um órgão conhecido como Mesa de Inspeção do Tabaco. Isso durou até um pouco mais da independência. Com o fim do controle português, as lavouras de fumo deram um grande salto. Foi possível cultivar qualquer espécie, em qualquer região do país. E o Brasil pode comercializar diretamente com países estrangeiros, aumentando a economia do país. No início do século XX, surge a Brazilian Tobacco Corporation, instalada no Sul do Brasil. Ela foi uma parceria que partiu da empresa britânica British American Tobacco, transformando a cidade em um pólo nacional da indústria de fumo. Depois de mudar de nome algumas vezes, foi comprada pela Souza Cruz em 1955.

Embora pouco conheçamos sobre o fumo, existe uma variedade enorme de tabaco distribuída pelo mundo. Como vinhos, existem tabacos com maior ou menor teor de nicotina e até suaves e condimentados. Variedades como o tabaco Burley, o Latakia, o Turco, o Perique e o Virgínia são alguns exemplos. O primeiro é um gênero de tabaco com baixa quantidade de açúcar e alto teor de nicotina, tendo uma combustão mais lenta, tanto que é usado como base para misturas aromáticas ou para diminuir a velocidade de combustão de uma mistura de tabacos. Já o Latakia é um tabaco curado através do fumo de determinados tipos de madeira. O tabaco do tipo Perique é também um fumo curado, cultivado na Lousiana, EUA. Diferente dos demais, fica sob alta pressão por muito tempo, permitindo sua fermentação enquanto se cura. Esta particularidade no seu processo objetiva um tabaco distinto. Os Turcos costumam a ser tabacos doces e condimentados, cultivados ao leste do Mediterrâneo. O Tabaco Virgínia, embora cultivado inicialmente no estado da Virgínia, EUA, hoje é cultivado em diferentes regiões. São marcados pelo alto teor de açúcar e pela suavidade. Estes tabacos tendem a melhorar com a idade, tal como um bom vinho. Muito mais suave que os tabacos turcos, estes Virgínia possuem um aroma complexo que o torna favorito dos fumadores mais experientes. No sul do Brasil, a variedade Virgínia é curada nas estufas, com temperatura e umidade controladas, sendo responsável por cerca de 85% do volume produzido na safra 2013/2014 (PriceWaterhouseCoopers).

Se alguém te perguntasse qual tipo de fumo faria mais mal à sua saúde? Você saberia responder qual faria mais mal à saúde do outro? Será que o risco viciante se concentra mais nos cigarros ou nos cachimbos? E o narguilé? Para responder a essas questões você precisa lembrar de uma informação importante: os charutos, cachimbos, cigarrilhas, cigarros de palha e narguilés, também utilizam o fumo. O consumo do tabaco em ambas as opções tem o mesmo potencial viciante, o que diferencia cada um deles são as circunstâncias de seu consumo. No entanto, em termo de proteção o charuto pode ser mais agressivo. Diferente dos cigarros e cachimbos, nos charutos não há um filtro, responsável por minimizar os danos causados pelas substâncias tóxicas que o produto oferece. No Brasil, a presença do filtro em cigarros é obrigatória justamente por isso. O grande problema ambiental se instaura com o número de guimbas de cigarro produzidas e lançadas pelas ruas. Na Europa, é comum o uso de filtros nos cachimbos, principalmente o filtro com 9 mm de diâmetro. Nesses produtos, além de reter parte da nicotina e das substâncias nocivas produzidas na combustão do tabaco, arrefece o fumo, diminuindo a irritação na boca do usuário. Também reduz a presença de saliva, não deixando que ela se instale no cachimbo e se misture ao tabaco.

Mas e quanto ao narguilé? Esse cachimbo de água, que está muito em moda agora entre roda de amigos e festinhas, não deve ser considerado menos nocivo por isso. Pelo contrário. Os cachimbos de água têm nicotina suficiente para criar dependência, mas por estar menos concentrada, reduz as náuseas e permite que o consumidor consiga ficar mais tempo exposto às substâncias cancerígenas do tabaco e a gases perigosos, como o monóxido de carbono.

De forma geral, após uma tragada, o fumante pode mostrar um pequeno aumento nos batimentos cardíacos, na pressão arterial e em sua frequência respiratória. Em relação à digestão, é comum que se diminuam as contrações do estômago, retardando a digestão. Além da fumaça ser irritante para os brônquios (nos pulmões), costuma tirar o sono do fumante. Após cerca de 9 segundos após a inalação, a nicotina é absorvida pelos pulmões chegando ao cérebro geralmente em 9 segundos. Inclusive, uma pessoa que já não come há um tempinho pode ficar ligeiramente tonta. Quando em jejum e se a tragada for grande, a pessoa pode ficar ligeiramente tonta.

A longo prazo, a chance de infartos, derrames e tromboses acontecerem são justificadas pela tendência ao entupimento e diminuição do calibre dos vasos sanguíneos no corpo. Por diminuir o calibre também dos vasos do pênis, pode acarretar à impotência sexual. Há uma forte chance de surgirem doenças respiratórias, como o enfisema pulmonar, e o câncer (sobretudo o de boca, laringe e pulmões) uma vez que o fumante inala e aspira constantemente fumaça em altas temperaturas com agentes químicos tóxicos, como o benzopireno e nitrosaminas.

Esteticamente, quando uma pessoa se torna um tabagista de muitos anos, a boca, a gengiva e os dentes dos fumantes costumam sofrer com os efeitos negativos de qualquer gênero de fumo. Nessa ocasião, o surgimento de doenças de gengiva é quase inevitável, o que está relacionado ao hálito forte e possíveis inflamações, mesmo com toda a higiene bucal dedicada. Em relação à qualidade dos dentes, além de sofrer com escurecimento e manchas, podem até amolecer. Para se ter uma ideia, uma pessoa que deixa de fumar pode apresentar manchas dentárias, nas mãos e nos dedos meses após abandonar o vício.

Agora, se pararmos para pensar, qual seria o lugar adequado para fumar? Será que, ao fumar, os agentes tóxicos da fumaça apenas passam para quem fuma? Se você respondeu que não, está certo. É uma grande ilusão achar que só quem fuma está sendo agredido e esse pode ser um grande diferencial em relação a outros produtos viciantes. Diretamente ou através do ar condicionado, a fumaça se espalha. Não há como fugir! Qualquer pessoa próxima a respira. Claramente a fumaça mais nociva é a que sai direto da ponta do cigarro enquanto queima. Mas, tanto quem fuma (fumante ativo), quando quem recebe a fumaça (fumante passivo) recebem os agentes tóxicos e os odores causados pelo forte cheiro do fumo na pele, nas roupas, no cabelo e nas mãos. Dependendo do tempo que se fica perto de um fumante, um perfume francês ou outro com alta fixação pode passar despercebido. E isso pode também fazer com que as pessoas se isolem de quem fuma, o que compromete a convivência com alguns fumantes extremamente dependentes do cigarro e outros derivados do fumo.

Sobretudo quando falamos do fumo, o respeito ao outro é fundamental. E temos que ser bastante sutis ao realizar comentários perto de pessoas que fumam. É importante que os fumantes sejam alertados com delicadeza, para que percebam que nos preocupamos com eles e não queremos apenas criticá-los. Por vezes, quem fuma esquece que existem outras pessoas ao seu lado, principalmente quando estão muito dependentes do cigarro. Sem falar nas mães grávidas que fumam. O que você acha dessa situação? Será que é um gesto de falta de amor da mãe ou um descontrole que o vício do tabaco causa? Se livrar da dependência química da nicotina não é algo tão fácil. Algumas pessoas ficam tão dependentes química e psicologicamente do cigarro que ignora o mal que possa causar ao feto, fornecendo as substâncias tóxicas do cigarro para o seu bebê através da placenta. Nesse caso, como ocorre um aumento dos batimentos cardíacos no feto, a criança pode nascer com pouco peso e estatura e deformações neurológicas. Por isso a mãe deve ser acolhida e sensibilizada, sem repulsas ou críticas, a fim de entender o que será melhor para ela e para a criança nesse período de gestação, reduzindo o risco de aborto e de parto prematuro. É mais higiênico e saudável para a mãe, para o bebê e para todos que convivem no mesmo ambiente familiar.

No Brasil, a partir do ano de 1996, o uso do tabaco foi regulamentado, sendo proibido fumar em repartições públicas, hospitais, salas de aula, bibliotecas, locais de trabalho, teatros cinemas e em outros ambientes coletivos fechados. Com isso também a publicidade de cigarros, especificamente, nas mídias foi vedada. E mesmo com essa regulação, alguns fumantes tentam burlar a lei e fingir que nada acontece até que alguém reclame. Mais uma vez chegamos à questão do respeito ao outro, como fator fundamental para saber os limites do próprio uso do tabaco. E você, o que pensa a respeito?

Biólogo Francisco Coelho

Cafeína

 

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Ao se falar em café, para muitas pessoas a lembrança é de uma refeição em família – café da manhã ou um lanche da tarde na casa da avó. Para outros, é de um momento de encontro durante o expediente de trabalho. Independente da situação, convenhamos… que delícia! O sucesso desta bebida é tanto que costuma a ser considerada o produto mais consumido no Brasil (81 litros por habitante), de acordo com a Embrapa Café, perdendo apenas para a água.

Portanto, o café faz parte dos hábitos alimentares do brasileiro, podendo ser considerado um elemento da nossa cultura (foi o principal produto de exportação do Brasil até metade do século XX). Consome-se um refrigerante de cola ou um chocolate em busca de um bem-estar, aumento de concentração e disposição, melhora no desempenho de atividades físicas. O café, mais especificamente a cafeína (que é a droga em questão), pode ser usado até em processos de emagrecimento, por ser um alimento termogênico e acelerar o metabolismo.

Mas será que a cafeína, substância presente no café, é inofensiva? Uma pessoa pode ficar dependente de café?

Se considerarmos droga “qualquer entidade química ou mistura de entidades que altere a função biológica e possivelmente a estrutura do organismo” (OMS, 1981), a cafeína pode ser classificada como tal. E aí chegamos a outro ponto importante: a cafeína ser classificada como uma substância lícita isenta que seu uso seja feito sem qualquer campanha sobre os riscos do seu consumo exagerado?

Quando se fala em cafeína os benefícios são mais valorizados que os efeitos danosos que possam causar, ainda mais que notícias sobre mortes decorrentes do seu uso acentuado são raríssimas. Provavelmente você, leitor, não deve saber de algum fato sobre uma overdose motivada por café. Mas elas já aconteceram. E o uso indiscriminado da cafeína pode promover desde aumento da ansiedade à problemas do sono. Uso problemático com café já foi registrado no Japão e nos EUA.

Os jovens encontram-se mais expostos aos riscos de uma superdosagem por conta de uso de energéticos em baladas ou para realização de trabalhos escolares/acadêmicos durante as madrugadas. Uma lata pode conter 80 mg de cafeína, que combinados com bebidas alcoólicas podem causar um danos ao organismos.

Em suma, a cafeína precisa ser entendida como uma substância que deve ser consumida com moderação (a Autoridade Europeia de Segurança Alimentícia recomenda que o consumo não passe de 3 xícaras de café por dia), a fim de evitar que os seus benefícios não se transformem em prejuízos para seus consumidores e para a sociedade. E cabe lembrar que o brasileiro adora um café forte! Na Europa e em países da América do Norte o café costuma ser bem mais diluído.

Sociólogo Vinicius Motta

Medicamentos

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Medicamento, remédio, … Ouvimos e falamos essas palavras repetidas vezes em nosso cotidiano, às vezes como sinônimas, mas será que são a mesma coisa?

Os medicamentos são produtos farmacêuticos, produzidos por farmácias de manipulação ou indústrias farmacêuticas, que contém um ou princípios ativos e excipientes. Esses produtos podem apresentar finalidade profilática (soros, vacinas), curativa (antibióticos, suplementos vitamínicos), paliativa ou para diagnóstico (contrastes radiológicos). O princípio ativo é um fármaco, droga ou substância ativa que apresenta propriedades farmacológicas e é empregada para modificar ou explorar sistemas fisiológicos ou estados patológicos em benefício do indivíduo no qual foi administrado. Os excipientes são as substâncias acrescidas ao produto a fim de melhorar a estabilidade ou aceitação como forma farmacêutica, geralmente não apresentam ação terapêutica ou interferem na eficácia do princípio ativo nas quantidades adicionadas.

Os remédios, por sua vez, são métodos e cuidados terapêuticos que ajudam o indivíduo a se sentir melhor. Incluem métodos químicos (medicamentos), físicos (massagem, radioterapia), preparações caseiras (chá, compressa) ou qualquer outro procedimento.

Logo, todo medicamento é um remédio, mas nem todo remédio é um medicamento.

Ainda que sejam produtos utilizados para a saúde, isso não significa que os medicamentos não apresentem riscos para a saúde e possam ser usados de forma indiscriminada. Para que os medicamentos tenham o efeito desejado, eles devem ser usados de forma correta e com orientação médica e farmacêutica. Devemos utilizar pelo motivo correto, na dosagem correta e nos horários corretos. Caso contrário, podem ocasionar problemas como atraso do diagnóstico, efeitos adversos, intoxicação e até óbito.

A automedicação é um hábito comum no Brasil devido à dificuldade ou limitação de recursos para ter acesso a um serviço de saúde, maus hábitos culturais e a facilidade de acesso à compra de medicamentos sem prescrição médica. Esse é um hábito muito perigoso, pois todo medicamento pode causar efeitos adversos, que podem aparecer dependendo da resposta do organismo e da dosagem. Dentre os jovens, os medicamentos mais usados por conta própria são os analgésicos e antibióticos, medicamentos para emagrecimento, xaropes, anabolizantes e medicamentos para disfunção erétil, tranqüilizantes e medicamentos para ansiedade .

Dentre os medicamentos citados, há os psicotrópicos ou psicoativos, que são aqueles que atuam sobre o sistema nervoso central e afetam nosso humor e comportamento. Podem ser classificadas em três grupos, de acordo com a atividade exercida:

  1. Depressores da Atividade do SNC: reduzem a atividade mental. Diminuem a atenção, a concentração, a tensão emocional e a capacidade intelectual. Exemplo: tranquilizantes (ansiolíticos), hipnóticos (soníferos).
  2. Estimulantes da Atividade do SNC: aumentam a atividade mental. Produzem vigília e euforia. Exemplo: anfetamina.
  3. Perturbadores da Atividade do SNC: causam alterações na percepção. Exemplo: fenciclidina.

Em geral, esses medicamentos tem a prescrição e a venda controladas e devem ser utilizadas com muito critério. No entanto, o uso sem prescrição e orientação médica, além de misturas desses medicamentos com outras drogas não é raro. O uso de alguns medicamentos tranqüilizantes com álcool, por exemplo, podem levar ao estado de coma e causar até mesmo a morte do indivíduo. Os psicotrópicos apresentam alto risco, pois podem causar dependência e inúmeras reações indesejadas.

Farmacêutica Janaiara Cunha

Anabolizantes

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Os esteróides anabolizantes não são drogas, tampouco psicoativas. Por isso, embora sintéticos, não entram no grupo dos medicamentos. Eles atuam de forma parecida com a do hormônio testosterona. Você já deve ter ouvido falar nesse hormônio, não? Ele é responsável pela maioria dos caracteres masculinos, desde a virilidade ao desenvolvimento dos músculos e ossos. Talvez você possa deduzir o porquê dos anabolizantes serem conhecidos como “bomba”.

Há mitos curiosos sobre a testosterona. Um deles é que o homem produz esse hormônio em alta escala até o fim da vida. Para início de conversa, os níveis de testosterona não se mantém constantes ao longo da vida. Como os demais hormônios, ele diminui com a idade. Outro mito é sobre a testosterona ser um hormônio exclusivamente achado no homem. Não mesmo! Embora em quantidades muito menores, o hormônio também está presente no corpo feminino. Nesse caso, ele é produzido nos ovários e nas glândulas suprarrenais (em cima dos rins), tendo entre suas funções auxiliar o processo de reprodução,  aumentar a massa muscular e disposição física e a libido (apetite sexual). A testosterona tem dois efeitos diferentes no corpo: o ANDROGÊNICO e o chamado ANABÓLICO. Os primeiros estão associados com as características essencialmente masculinas (como o tamanho dos testículos e do pênis, a mudança gradativa na voz do adolescente, o surgimento e crescimento de pelos no rosto e corpo, a virilidade etc.). Já os efeitos anabólicos, estão associados mais diretamente com o aumento da massa muscular, da força, com a capacidade do músculo de se regenerar e com o controle de gordura do corpo. Curioso, não?

Agora, vale lembrar que, embora tenham afeitos semelhantes, o esteroide anabolizante não é a testosterona natural. E, por isso – mesmo que atue no corpo de forma parecida – os anabolizantes costumam apresentar um MAIOR EFEITO ANABÓLICO e UM MENOR EFEITO ANDROGÊNICO. Em outras palavras, o pessoal quer é ficar fortão! Por isso todo o cuidado é pouco. Isso não quer dizer que os anabolizantes sejam vilões, mas a forma inadequada de uso pode ser. Há indicações clínicas para o aumento de força e massa muscular, mas nunca de forma desorientada. Inclusive, podem ser adotados pelos médicos em casos graves de saúde, como, por exemplo, baixa produção de hormônios sexuais, quimioterapia (para alguns tipos de câncer) e reposição hormonal para o sexo masculino, devido a algum trauma. Pois é, o uso de anabolizantes não é sempre uma questão de vaidade, vale lembrar.

No que tange o uso de anabolizantes, em termos educativos, duas questões são preocupantes: a primeira é o consumo abusivo e segunda, o consumo ilegal. Quanto ao consumo ilegal, parte dos usuários de bomba são adolescentes, atletas recreacionais e mulheres. E, nos três casos, costumam a fazer uso inconsciente devido à importância que é dada à estética corporal. Está aí a importância de conhecermos nosso corpo e sabermos onde e quando intervir. Será que você conhece, de fato, o seu corpo? Quando realmente necessário, uma boa orientação médica é fundamental.

Biólogo Francisco Coelho

Drogas Ilícitas

Diferente do produto lícito, o ilícito não deve ser comprado, vendido ou consumido nem mesmo pelos maiores de idade. As substâncias ilícitas são produtos ilegais diante de nossa legislação e são permitidas o uso em raras exceções com mandado judicial. É o que ocorre por exemplo com o uso médico da maconha, utilizado por alguns responsáveis para tratar doenças neurológica de seus filhos.

É importante lembrar que o que é ilícito para um país pode não ser para outro. Por exemplo, em Portugal, o uso de produtos ilícitos não é mais um crime. Contudo, seu uso gera punições. Nesse caso, dizemos que as drogas foram descriminalizadas, mas não liberadas para venda e consumo. Legalizar e descriminalizar são coisas diferentes!

Maconha

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Provavelmente você já tenha ouvido bastante em relação à maconha, sobretudo entre amigos ou seus pais, ao dizer que quem a fuma destrói o cérebro e fica maluco depois de certo tempo. Por um lado as informações até tem um fundo de verdade, mas são muito mais dramáticas à verdadeiras. O grande problema são as informações inconsistentes divulgadas sobre ela. Partimos então da coisa mais básica que você deve saber sobre a maconha: Ela não é uma droga. É uma planta do gênero Cannabis. Atualmente falamos em 3 variedades: Cannabis sativa, Cannabis indica e Cannabis ruderalis. Os três grupos provavelmente vieram do centro e sul da Ásia, como revelam os registros arqueológicos e históricos de civilizações asiáticas antigas.

A maconha não era usada apenas para uso recreativo. Do contrário, fornecia óleo de suas sementes comestíveis e era também utilizada como forragem para o gado. Seu uso terapêutico já era datado desde 2700 antes de cristo, onde fumada ou em infusão, fazia parte de bebidas e eram ministradas por curandeiros africanos e velhos caboclos.

Quando vinham para o Brasil, os escravos libertos, retornando da África, traziam sementes de maconha escondidas dentro de bonecas de pano, para que não pudessem ser encontradas ao chegar aos porto brasileiros. Para alguns historiadores, a maconha teria sido usada também no Quilombo de Palmares, em eventos religiosos de candomblé e catimbós de Recife, na década de 1930. E embora parecesse contraditório, nem todos os senhores de engenho eram contra o uso da maconha pelos negros. Alguns senhores deixavam que os negros tivessem essas plantações no meio dos canaviais. Assim, suportavam a tristeza de serem escravizados, longe de sua pátria. Foi a partir de então que registrou-se no Brasil o uso medicinal da planta, para dores de dente, cólicas no útero, asma, controle de crises de epilepsia, para o glaucoma e até durante o parto. Mas, convenhamos. Naquela época não se tinham tantas tecnologias como temos hoje.

A maconha é uma planta que apresenta muitos princípios ativos (as drogas em si). A principal delas é o THC (tetraidrocanabinol) que pode chegar ao nosso cérebro quando se fuma ou se ingere a planta. Diferente da cocaína, a maconha não se cheira. Quando fumada, em cachimbo ou no baseado (forma de cigarro artesanal), seu efeito é sentido mais rapidamente e as sensações duram em torno de 4 horas. Quando ingerida, os efeitos demoram mais para serem sentidos, porém duram mais tempo no corpo, podendo chegar a 12 horas (EM ALGUMAS OCASIÕES ISSO PODE ACONTECER SIM!).

Essa diferença acontece pois, quando fumada, o THC vai para os pulmões e depois diretamente para o sangue, atingindo o cérebro em questão de segundos. Já ao ser ingerida, leva mais tempo porque tem que passar por todo o processo de digestão, para que só depois seus metabólitos migrem para o sangue e o THC atinja o sistema nervoso. Para quem nunca ouviu falar sobre isso, pode se perguntar como é possível ingerir a maconha e o THC?

Em nossa cultura não é algo, de fato, habitual. Mas para os holandeses e uruguaios, há certo apreço por um tipo de Brownie (bolinho) recheado com a erva. Inclusive, caso você viaje para algum país onde o uso da maconha como turista seja permitido, muito cuidado ao experimentar produtos e alimentos que contenham algum teor de THC. Na Holanda, por exemplo, alguns turistas brasileiros passam por maus bocados por comer esses produtos em grandes quantidades. Isso é normal nesses lugares pois a produção, a venda e o uso da maconha foram legalizados. No Uruguai, essa liberação foi mais recente, apenas para quem reside lá. Nesses países, a informação circula livremente e, portanto acaba sendo mais acessível o tratamento da dependência, visto que não é uma droga proibida.

Embora a droga seja proibida no Brasil, é comercializada ilegalmente na forma de erva prensada ou haxixe. E a concentração de THC varia muito de acordo com sua forma de preparo e origem. O THC é um tipo dos princípios ativos da maconha, mas não é o único. Existe também uma substância chamada CBD (canabidiol). No entanto apenas o THC produz o sensação de “baratos” experimentados por usuários de maconha, ou seja, apenas ela tem potencial psicoativo. Por isso quem fuma sente um profundo bem-estar, calma e tranquilidade, ficando a vontade para falar sobre qualquer assunto (se fala que a pessoa ficou chapada!), tem vontade de rir e acaba nem percebendo a passagem do tempo e as distâncias.

À medida que as concentrações de THC atingem o sistema nervoso central, alguns efeitos começam a ser notados na pessoa: os olhos fecham lentamente e se tornam mais avermelhados (os olhos vermelhos denunciam bastante nesse caso!), as mucosas dos lábios e olhos se tornam ressecadas, o coração bate rapidamente (taquicardia), ela começa a ter dificuldades de perceber o tempo e o espaço e, perde um pouco de sua coordenação motora. Dirigir ou tomar decisões que exigem extremo raciocínio, portanto, não são ações sugeridas à quem fuma um baseado ou um cachimbo com maconha, sobretudo para quem não é um típico usuário. Concorda? Contudo, alguns acham graça disso, principalmente quando a pessoa que fuma acha graça de tudo e não consegue segurar o riso. Em muitas situações, a pessoa que fuma pode se sentir perseguida, num sentimento de angústia e mal-estar, conhecido como neura, paranóia ou mesmo nóia. Após algumas horas de fumar um baseado ou cachimbo, é muito comum que o usuário sinta uma fome intensa (estado conhecido como larica). Entretanto, nem todos esses sintomas acontece com todos que experimentam a maconha. Tampouco na mesma sequência. Isso depende da qualidade da planta, da concentração de THC e de vários outros fatores.

No que tange o uso terapêutico, o potencial medicinal da maconha é reconhecido cientificamente e legalizado em diferentes estados norte-americanos, bem como em países como Israel e Canadá. Nesse caso, O CBD é o princípio ativo de maior importância, pois está relacionado com o alívio do enjoo e mal estar relacionados ao câncer e no controle de crises convulsivas de crianças que apresentam anomalias neurológicas raras. Na seção de filmes sugeridos sobre drogas, há um documentário produzido pela Superinteressante (ILEGAL) que fala mais sobre isso no Brasil. Vale a pena assistir.

O CBD pode também ser usada como analgésico e reduzir bastante a pressão intraocular e a produção de lágrimas em pacientes com glaucoma (embora os efeitos não durem por muito tempo). Entretanto, embora o CBD seja usada como agente terapêutico no Canadá, pesquisas do Centro Canadense de luta contra as Toxicomanias (CCLCT) também revelam que o THC, a longo prazo, gera um descontrole neuronal e produz modificações neurotóxicas no cérebro, sobretudo no uso precoce entre adolescentes, revelando alterações na massa branca e cinzenta do órgão cerebral. Além disso, há uma forte relação entre o uso da maconha e a redução das funções cognitivas superiores, influenciando na tomada de decisões e resolução de simples problemas. E aí, o que você acha de todas essas informações?

É muito comum ouvirmos comparações de que a maconha é mais nociva que o cigarro. Essa discussão produz mitos enganosos e que não condizem com a realidade. A dependência da maconha, do cigarro ou de qualquer outra substância, pode ser um sintoma de que as relações com a família e com o mundo estão perturbadas. Fugir do conflito e tapar o sol com a peneira não resolve. Algumas famílias se isolam. Outras, enfrentam conflitos com a ajuda de especialistas.

Algo curioso é o mito de que usuários de maconha são agressivos. É difícil provar a relação entre os usuários da maconha e o aumento da agressividade no comportamento de quem fuma. Se pensarmos bem, as concentrações de THC no sangue causam sensação de relaxamento e bem-estar, deixando a pessoa mais lenta e não agitadas e agressivas. Nesse caso, a associação que pode ser feita entre maconha e criminalidade, decorre apenas do uso ilegal, visto que para obtê-la o usuário terá que entrar num contexto de criminalidade.

Casos de agressividade podem estar ligados à repetição compulsiva do consumo, marcado por possíveis dependências e crises de abstinência que a pessoa possa ter com a falta do uso da droga. Em algumas ocasiões desse tipo, a dependência das drogas pode corresponder a isolamentos, de rompimento com laços com outras pessoas e com atividades cotidianas, não resultando de imediato, mas de um processo. Pode ainda justificar novas amizades e a formação de novos grupos que compartilham a mesma prática de uso da maconha. Mas não se pode assumir generalizações. Há pessoas que experimentam uma vez e param. Outras usam quando tem vontade, raramente entre amigos mais íntimos. Nem todas as pessoas que usam maconha tem as mesmas reações. Muitas mantém suas atividades profissionais, seus afetos, não tem registros de problemas decorrentes do consumo, daí não podendo ser consideradas dependentes da maconha.

Além do uso dos gêneros de Cannabis comum, existe a super maconha ou Skunk. Recebe esse nome devido ao forte odor exalado pela planta, sendo bem mais forte que o cheiro da maconha comum, que , em geral, tem odor adocicado. A skunk é o resultado de um cruzamento estável entre duas espécies da Cannabis para alterar o teor de THC. Ela foi produzida e comercializada na década de 70 nos EUA (mais precisamente em 1978), combinando o sabor e euforia da Cannabis sativa (75%) com o rendimento e floração rápida da Cannabis indica (25%). Assim, a concentração de THC da Skunk pode chegar ser muito maior do que as concentrações da sativa comum. Dependendo da técnica, pode chegar ao dobro, triplo ou até mais de 20 % de THC que na Cannabis comum. Por esse motivo, muitas pessoas que experimentam a Skunk pela primeira vez acabam passando mal e vomitando bastante, pois colocam concentrações elevadas de THC e outras substâncias no corpo em questão de segundos.

Biólogo Francisco Coelho

A Coca e seus Derivados – Cocaína, Craque e Afins

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Muito tem se falado sobre a cocaína e seus derivados, sobretudo o craque. Mas será que, de fato, tudo o que se fala na mídia é verdade? Os pais têm um medo absurdo dessa droga e acabam esquecendo que outras, como o álcool, podem também ser ofensivas, visto serem mais baratas e, além de tudo, costumam circular de forma mais fácil por serem lícitas. Então, mais uma vez, chamamos a atenção para a importância da orientação e diálogo com os jovens. Uma pessoa bem informada vale por duas, como dizem os mais velhos.

Vamos começar, entendendo quimicamente o que é a cocaína. A cocaína e um sal inorgânico, o cloridrato de cocaína. É um pó branco, que parece uma farinha bem fina, obtido pela destilação das folhas de coca, Erythroxylum coca, que são secas e misturadas com outros solventes (como o ácido sulfúrico e o querosene). Por ser um sal inorgânico, tem propriedades muito parecidas com o sal de cozinha (o cloreto de sódio) que temos em casa. No entanto, a cocaína tem um gosto amargo. Mas, obviamente os efeitos da ingestão do sal de cozinha e da cocaína são bem diferentes. E você deve deduzir isso. Não é mesmo?

A cocaína é uma droga que causa euforia nas pessoas, deixando-as agitadas. Por isso é classificada como droga estimulante do sistema nervoso. Esse, em princípio é o grande barato que os usuários têm ao usá-la. Segundos após entrar no corpo, a pessoa que usa tem a sensação de aumento da resistência física, chegando a reduzir o cansaço e até as dores, numa sensação de anestesia. Curioso, não é? Uma droga pode fazer toda essa transformação no corpo em questão de segundos.

Esse potencial anestésico da cocaína se espalhou tão rápido que no início do século XIX muitos a utilizavam para se livrar do vício do álcool e da morfina, outra droga bem consumida na época. E acredite: chegava a ser indicada por médicos. A droga se tornava tão popular e conhecida que no final do século, já era vendida nas ruas por 25 centavos americanos em sua forma pura, ou obtida de modo industrializado pela empresa Parke Davis em quinze formas diferentes, tais como cigarros, pó, preparado para injetar e até pastilhas estimulando pelas propagandas da época ao uso para obter coragem e vencer as dores. Sem falar que a cocaína já chegou a ser vendida para amenizar a dor de dente de crianças. Acredita nisso? No Brasil, a cocaína era legalmente comercializada no início do século XX, fazendo parte da composição química de remédios ou na sua forma pura. Propagandas da Gazeta Médica de São Paulo, em 1910, já anunciavam a venda de cocaína para laringites, tosses e outros problemas. Inclusive quem comprasse na farmácia um frasco ganharia uma caixinha para guardar os comprimidos no bolso.

Alguns registros históricos revelam que o famoso psiquiatra Sigmund Freud (o grande pai da psicanálise) , utilizou a droga por um bom tempo para reduzir as dores causadas por um tumor que teve na região da boca. Isso pode ser evidenciado em seu livro Über Coca (Sobre a Coca), onde ele relata suas experiências com o uso da cocaína. Mas isso não saiu barato. Freud foi acusado de irresponsabilidade pela comunidade científica por usar de forma tão entusiasmada a cocaína. Esses e outros relatos serviram de base para que alguns médicos usassem a cocaína como anestésico local. Um bom exemplo foi o oftalmologista Carl Köller, um dos pioneiros a aplicar gotas de solução com cocaína nos olhos de pacientes antes das cirurgias.

No entanto, com o tempo, o uso da cocaína se tornou preocupante, sobretudo pelo abuso. Nesses casos, acaba aumentando a irritabilidade, gera alterações de humor, delírios paranóicos e, costumeiramente, quadros de insônia. Em relação à saúde cardiovascular, o cloridrato de cocaína provoca contração dos vasos sanguíneos. Assim, tecidos mal irrigados podem apresentar sangramentos. Por isso, em alguns usuários da cocaína, é comum observar ferimentos na mucosa nasal. Por ter um efeito muito intenso, pode ser considerada uma droga de velocidade. É nesse aspecto que incide o risco de contaminação de hepatite C ou HIV, pois pode haver troca de sangue nessas práticas.

Mas a cocaína não é a única forma de se usar a folha de coca. Em países como a Bolívia e o Peru, por exemplo, há o hábito de se usar a planta na forma de chá. E não é a mesma coisa. Acreditem! Por incrível que pareça, o chá da folha da planta não apresenta concentrações suficientes de cocaína para gerar os efeitos de euforia que o uso da cocaína refinada pode causar. O chá de coca tem um efeito mais relaxante, sendo usado sobretudo pelos habitantes dos Andes e indicado aos turistas para reduzir os efeitos gerados pela baixa pressão atmosférica, onde o ar é mais rarefeito e a quantidade de oxigênio disponível para respiração é menor. Nessas ocasiões, o chá da folha de coca pode aliviar as fortes dores de cabeça e aceleração intensa dos batimentos cardíacos, mas não deixa a pessoa eufórica. Além do chá, também é conhecido hoje o hábito de mascar a folha da coca, algo já realizado pelos índios sul americanos antes de cristo, na busca de diminuir ou retirar a fome e a fadiga. Portanto, os padrões culturais de uso da folha de coca antecedem o próprio descobrimento das Américas. Para a civilização Inca naquele período, a folha de coca só poderia ser usada pelos personagens políticos e religiosos, uma vez que era considerada um presente dos deuses. Assim, apenas os índios mensageiros (que se deslocavam de uma tribo para outra) dos Andes podiam colher as folhas de coca para se alimentar ou para usos medicinais. Depois disso, com a colonização e exploração espanhola, acabou sendo usada como forma de pagamento para os próprios índios escravizados. Com essa ruptura cultural, os espanhóis passaram a usar a folha de coca como moeda de troca. Ao visitar alguns sítios arqueológicos no Peru, percebemos que os índios antepassados colocavam folhas de coca junto às tumbas onde enterravam seus mortos. E isso acontecia a mais de 2.500 anos. Ainda é uma prática comum dos índios peruanos colocar as folhas de coca junto com os mortos acreditando ser um item necessário para o “além da vida”.

Embora os indígenas do sul da América já se apropriassem das folhas de coca, também chamada de epadu, foi apenas em 1855 que o químico alemão Friedrich Gaedecke conseguiu extrair o ingrediente ativo da folha da coca, que ele chamou de erythroxylon. Mas apenas anos depois, por volta de 1859, é que outro químico alemão, Albert Niemann, isolou a substância do interior das células da planta e a denominou cocaína. Para o período foi uma grande descoberta. Assim, seu uso começou a espalhar-se aos poucos, sobretudo na Europa.

A partir do sucesso alemão com a descoberta e identificação da cocaína, cientistas italianos recolheram amostras da planta para estudo. E isso acabou permitindo que o químico Angelo Mariani desenvolvesse uma bebida chamada vinho Mariani, uma espécie de infusão alcoólica com as folhas de coca. Essa bebida fez muito sucesso na Europa no final do século XIX, por ser mais forte devido ao poder de extração da cocaína do álcool, em relação às infusões de água ou chás usadas. Tão conhecido foi o Vinho Mariani que o Papa Leão XIII, resolveu dar uma medalha de honra ao cientista criador do vinho. E é aí que a Coca-cola entra na história! Como era comercializada livremente nos Estados Unidos, os americanos tentaram driblar o sucesso do vinho tônico europeu. Dessa forma, a Coca-Cola continuaria desde a sua invenção até o início do século XIX a manter a cocaína como um de seus ingredientes, onde, sem dúvidas, seus efeitos foram determinantes para o potencial atrativo da bebida. Era indicada para dores, cansaços, substituto alimentar, entre outras indicações. Foi entre 1886 e 1900 que a cocaína foi incluída na fórmula do refrigerante Coca-Cola. Curioso não?

Embora seu consumo tenha sido livre antes da primeira guerra mundial, atualmente a cocaína é uma droga ilícita. Logo, tanto sua produção, sua venda e uso são proibidos por lei. Dessa forma, toda circulação de cocaína no país se dá de forma clandestina, sem qualquer controle de qualidade de produção. Assim, não é difícil de se imaginar que nesses processos de produção clandestinos frequentemente são misturados muitos solventes tóxicos na busca de aumentar os rendimentos dos produtores e traficantes, como querosene, gasolina e até água de bateria. E isso pode ser um risco maior à saúde, através da prática constante do uso. Como a produção da cocaína não é legal, não se pode recorrer ao sistema jurídico para ajudar o cidadão e o que sobra são ajustes de contas violentos e armados.

Não apenas a cocaína refinada, mas qualquer subproduto dela, como a merla ou o craque, são proibidos no Brasil. Você já ouviu falar nesses produtos? A merla (ou melado) é obtida quando as folhas da coca são misturadas com diferentes solventes (ácido sulfúrico, querosene, cal virgem, gasolina etc.). Essa mistura fica com consistência pastosa e de coloração amarelada. Nesse caso, dizemos que tem a forma de base. Pode ser ingerida pura ou fumada misturada com tabaco e maconha. Uma dúvida bem comum sobre a cocaína e seus derivados é sobre o tempo que ela fica no organismo após o uso. Isso é muito relativo, mas em geral seus subprodutos podem ser detectados entre 4 a 8 dias. O tempo de eliminação da droga não é igual para todos. Depende de quanto a pessoa utilizou e da qualidade (pureza) da droga, além das condições biológicas de cada um.

O craque é um mistura diferente da merla. Também não tem o aspecto tão fininho e branco, sendo um composto da cocaína na forma base, ou seja o cloridrato de cocaína misturado com bicarbonato de sódio, soda cáustica e amônia, num formato mais grosseiro de cristais (já deu para notar quanta coisa é adicionada aí, não é mesmo?). Por isso se fala em pedras de craque, resultante da cristalização do produto. E, na forma de cristais (pedras), podem ser fumados e não injetado ou aspirado como na cocaína. Sendo fumado, o craque é rapidamente absorvido pelos pulmões, passando para os vasos sanguíneos e chegando quase que instantaneamente ao cérebro em menos de 15 segundos. A droga é, para alguns pesquisadores, uma substância com alto potencial de dependência. Os registros do uso de craque datam de 1980, sendo o seu baixo custo de produção e aquisição como principais causas de sua rápida disseminação social. Para vocês terem uma ideia, na década de 80, nos Estados Unidos, uma porção de craque valia cerca de 15 vezes menos que a mesma porção de cocaína. E se você chegou a pensar que o baixo preço do craque se deve à pequena quantidade de cocaína na formulação, você está certo. Na década de 90, na televisão e jornais era comum falar do abuso do craque na cidade de São Paulo. Era o início das era da cracolândias (ponto de encontro dos usuários de craque). Atualmente, praticamente todo o país tem sofrido com as cracolândias, circulando, nesses espaços, usuários de diferentes drogas e não mais apenas craque.

Se analisarmos socialmente a dependência do craque, traçando um paralelo com a história do crack nos EUA, podemos perceber como o mau entendimento sobre essa droga contribuiu para aumentar o preconceito e a gerar mais discriminação sobre os seus usuários, gerando um pânico social que acabou favorecendo a morte de centenas de milhares de jovens brasileiros pobres, em sua maioria negros, nos últimos anos no Brasil. Portanto, não se pode generalizar que todos os efeitos da droga e as dependências aconteçam da mesma forma para todos. Diferente do que se pensa, o crack não mata em seis meses. Outro mito, portanto, é derrubado em relação ao crack!

Biólogo Francisco Coelho

Ecstasy

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Muito popular em raves, festas com música eletrônica que costuma ter longa duração, onde DJs e demais artistas realizam performances e apresentam seus trabalhos. Este ambiente é decorado com jogos de luz que acompanham o ritmo da música, criando uma atmosfera com características psicodélicas. Alguns usuários relatam sensação de paz, de tranquilidade. Outros, sintomas associados ao aumento da ansiedade e não conseguem ficar parados. Vá entender! O corpo pode reagir de formas bem diferentes para cada produto desconhecido.

É comum haver a associação das raves e outras baladas com o consumo de álcool e drogas ilegais, como o Ecstasy e outros tipos de anfetaminas, o que permite também fazer uma relação entre a música eletrônica e os efeitos causados por este consumo. Entretanto, existem muitas raves nas quais o público não consome nenhum tipo de drogas.

O Ecstasy é conhecida como a droga de recreio, droga de desenho e droga do amor. Nossa, há tantos nomes! Ele é um produto sintético, ou seja, não é extraído de uma planta como a papoula ou a Cannabis. Muitos usuários a consomem pelo efeito estimulante e afrodisíaco.

Será que o Ecstasy realmente é a droga do amor? São relatados dois efeitos colaterais relativamente comuns ao consumo do Ecstasy: a dificuldade de ereção nos homens e a falta de lubrificação natural entre as mulheres. Mas, obviamente isso não acontece em todas as situações. Esses problemas podem estar relacionados com o aumento da temperatura do corpo provocado pela droga, e pelo quadro de desidratação vem a seguir.

O MDMA (a droga em si contida no Ecstasy) provoca uma descarga do neurotransmissor serotonina, responsável pela sensação de prazer. É por isso que a droga costuma garantir disposição de sobra para varar uma noite inteira dançando e, em muitos casos, realmente aumenta o desejo sexual. Mas uma coisa é desejo, e outra coisa é desempenho.

Bióloga Rosana Gerpe

Heroína

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A heroína é uma droga relativamente nova, criada no final do século XIX. Não é tão presente nos comportamentos de consumo das substâncias ilícitas no Brasil pelo seu custo mais elevado, em comparação com a maconha, a cocaína e mais recentemente o crack. Então por que é importante falar desta substância?

As interações sociais produzem novos significados para determinados produtos. Das experimentações dos derivados do ópio para o alívio de dor, de insónia, cólicas e dificuldades urinárias, foi percebido que sua utilização poderia ir além dos objetivos medicinais – seriam mais eficazes em termos econômicos e de formação de consumidores. Produzindo sensações de prazer e bem-estar, novas drogas ficaram populares.

Mas precisamos de um ponto de partida para entender como a heroína entra no circuito das drogas, ou seja, uma rede de venda e consumo vinculada a um contexto social. Pensando em uma pré-história da substância, a papoula deve ser mencionada como a planta que deu origem aos opiáceos.

As papoulas possuem diversas propriedades medicinais. Pode se encontrar diversos medicamentos naturais à venda à base da papoula. As pétalas das papoulas são consumidas por diversos povos da Ásia na alimentação. Elas são muito usadas em saladas, acreditando-se que ao consumir as flores é possível se beneficiar de suas propriedades medicinais. As sementes também são muito consumidas.
Em muitos lugares do mundo o cultivo das papoulas é proibido, já que é a partir de componentes presentes em seu látex que é feita com substâncias ilegais. No Brasil, por exemplo, o cultivo das papoulas não é permitido, mas o consumo das sementes é liberado.

Embora não seja um problema tão frequente em nossa cultura, na Europa e nos EUA tem assumido dimensões epidêmicas. Só de curiosidade nos EUA o uso abusivo da heroína gerou 3 mil óbitos em 2014, se ampliando para 20 mil mortes no ano de 2017. Não é um problema de pouca repercussão, não é? Os chineses e outros povos apreciavam bastante o ópio como substância relaxante e apaziguadora. E, inclusive, gerou grandes revoltas entre o oriente e o ocidente pelo controle desse produto. Você já ouviu falar na Guerra do Ópio? Certamente vai se surpreender em como o uso de opiáceos é uma prática antiga.

Do ópio, que movimentou guerras na Ásia e hoje marca novas rotas de tráfico, incluindo a África no caminho de um comércio ilegal. Dando outro salto, chegamos a morfina. Os efeitos de dependência conduziram a criação de um novo produto que se mostrou mais poderoso: a heroína. Curioso notar como uma planta gera tantos subprodutos entorpecentes.

Sociólogo Vinicius Motta e Bióloga Rosana Gerpe

Novos Sintéticos

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Atualmente, se entorpecer com produtos extraídos de plantas não é a vibe mais comum. Há uma série de produtos sintéticos que causam efeitos sinestésicos e relaxantes nas pessoas. Há uma leva de substâncias psicoativas produzidas em laboratórios clandestinos, consumidas principalmente por jovens. São produtos sintéticos que reproduzem os efeitos da maconha, da cocaína e da heroína, mas com um detalhe: são muito mais potentes do que as substâncias originais. Por vezes, têm um efeito mais duradouro. E aí que pode estar o perigo: concentrações elevadas de produtos antes não metabolizados pelo organismo.

Vamos apresentar alguns desses novos sintéticos, para você ter uma noção de alguns produtos vendidos no mercado clandestino. Certamente até você ter conhecimento desse texto já terão outros produtos no mercado. E caso conheça alguma nova substância, nos envie por e-mail. Afinal, quanto mais sabemos, mais somos capazes de gerar intervenções e minimizar danos à nossa saúde a de nossos jovens. Não é mesmo?

NBOME,  provoca forte alteração na consciência, alucinações visuais e sonoras, euforia e sentimentos de amor. Em alguns casos, esses sintéticos se assemelham aos efeitos do Ecstasy.

PÓ DE ANJO, usada como anestésico nos anos 50. O consumo provoca uma sensação de embriaguez acompanhada de relaxamento, sensação de desligamento da realidade, falta de coordenação motora, dificuldade de concentração e alucinação

MACONHA SINTÉTICA, conhecida como spice, K2, Hi-5 ou incenso do diabo.  É produzida a partir de uma base formada por plantas aromáticas (capim moído, ervas finas, etc.). Essa base recebe uma solução líquida de moléculas sintéticas com atividade farmacológica similar à do tetraidrocanabinol (THC), o princípio ativo da maconha. Tem efeitos semelhantes aos da maconha convencional, porém bem mais intensos. Provoca relaxamento, mudança de humor e alteração de percepção

KROKODIL feito de codeína (aquela droga usada nos xaropes e remédios para a garganta), um analgésico e sintetizado com produtos nocivos como gasolina, solvente, iodo, e fósforo vermelho.  Provoca um estado profundo de letargia e relaxamento.

SPECIAL-K É feita a partir de um medicamento anestésico usado em cavalos e em seres humanos, a quetamina. Sintetizada pela primeira vez em 1962, foi empregada na Guerra do Vietnã para aliviar a dor de feridos. Seu consumo produz uma leve sedação e pensamentos fantasiosos (como num sonho), diminuição da atividade motora e alterações de humor. Usuários também relatam sensação de estar fora do próprio corpo

MIAU MIAU prima da flakka, esta droga faz parte da família dos sais de banho. Produzida a partir de um estimulante de ação rápida, a mefedrona, ela costuma ser encontrada na forma de um pó branco e é vendida na internet como fertilizante de planta. Ela provoca no corpo a sensação equivalente à de um coquetel de cocaína com ecstasy. Há um aumento de euforia e agitação. Também podem ocorrer alucinações

FLAKKA conhecida como “droga zombie”  é um tipo de sal de banho, nome dado a um vasto grupo de drogas sintéticas com formato parecido ao de pequenos cristais. Os sais de banho são feitos a partir de substâncias quimicamente semelhantes à catinona, composto obtido a partir do arbusto africano khat (Catha edulis). Comparando grosseira, diria que a Khat está para os iemenitas, como o café para os brasileiros ou as folhas de coca para os bolivianos. É um estimulante suave frequentemente servido em ocasiões sociais. A planta é mastigada e resulta em inibir o apetite, deixar seus usuários confiantes e bastante enérgicos. Levando em consideração a proibição do álcool pelo Alcorão, a Khat também é muito utilizado nos happy hours iemenitas.

DOB é uma substância psicoativa derivada das anfetaminas (droga estimulante do sistema nervoso central) acrescentada de um átomo de bromo. Similar ao ecstasy, é normalmente vendida em cápsulas transparentes com capacidade para 500 mg, mas que contêm apenas entre 1 e 1,5 mg da substância – daí seu apelido, “cápsula de vento”.

Embora não seja um sintético, cabe falar também numa planta conhecida como  “Borrachero” ou Árvore-do-diabo”, espécies endêmicas da América do Sul. Já ouviu falar nela? É uma espécie arbustiva pertencente à família Solanaceae e por ser uma planta enteógena pode ser extremamente tóxica quando ingerida. No Brasil as plantas dessa família são popularmente conhecidas como Datura, Trombeta-de-anjo ou Zabumba, e em alguns casos são utilizadas na preparação de um alucinógeno poderoso em forma de chá. Foi descoberto no “Borrachero”, um processo químico para a extração e potencialização da escopolamina – substância encontrada na planta. Ao final do processo, a planta é transformada em um pó parecido com a cocaína (falamos da textura), mas muito mais potente e alucinógeno. Há quem relate altas viagens com a escopolamina!

Biólogos Francisco Coelho e  Rosana Gerpe